Dra. Juliane Ferreira – Medicina de Família e Comunidade – São Bento do Sapucaí – SP

A tontura é um sintoma que afeta anualmente cerca de 15 a 20% da população adulta, e a chance de você apresentar esse sintoma aumenta com a idade. É uma das queixas mais comuns entre pessoas com mais de 70 anos, podendo atingir até 61% das mulheres.

Devido ao fato de ser tão comum, é de extrema importância entender as diferentes formas de tontura para garantir um diagnóstico e tratamento adequados.

O Que é Tontura?

A tontura não é uma doença específica em si, mas um termo abrangente que pode se referir a várias sensações diferentes.  Comumente a maneira como os pacientes me relatam é:

  • “Sinto como se a sala estivesse rodando.”
  • “Parece que estou em um barco balançando.”
  • “Minha cabeça está leve e tudo ao meu redor está tremendo.”
  • Sinto que vou cair, como se o chão estivesse se movendo.”
  • “É como se eu estivesse flutuando ou descolando do chão.”
  • “Sinto uma sensação de desorientação, como se não soubesse onde estou.”
  • “Sinto uma fraqueza nas pernas e uma sensação que vou cair
  • “É como se eu estivesse girando em círculos.”
  • “Sinto uma pressão na cabeça e tudo parece distante.”
  • “Parece que estou andando em um terreno irregular.”
  • “Sinto uma sensação de instabilidade, como se estivesse prestes a desmaiar.

Qual médico que trata tontura?

Exatamente por existir vários tipos de tontura, e por consequência, várias causas, é fundamental que você seja avaliado como um todo.

O médico de família é especialista nessa abordagem integral do paciente, e tontura é uma das queixas mais resolvidas no consultório do médico de família.

Meu nome é Juliane Ferreira, sou médica de família e comunidade, especialista no tratamento de doenças crônicas e queixas complexas com base na Medicina do estilo de vida.

Membra da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

Já atendeu mais de 20.000 pacientes, acompanhando todas suas queixas de saúde e centralizando seu cuidado, sem precisar de um especialista para cada doença e queixa.

Quero atender você e cuidar da sua saúde como um todo. Vamos juntos?

Os 4 principais tipos de tontura

1.Vertigem

 A vertigem é a sensação de que você ou o ambiente ao seu redor está girando. É frequentemente causada por problemas no sistema vestibular.

O sistema vestibular é um conjunto de estruturas do ouvido interno responsável pelo nosso equilíbrio e percepção de movimento. O cérebro usa informações captadas pelo sistema vestibular para nos ajudar a manter o equilíbrio. Por exemplo, se você está girando a cabeça, o sistema vestibular informa ao cérebro que você está em movimento, permitindo que você ajuste sua postura para não cair.

A vertigem pode ser classificada em dois tipos:

  • Vertigem periférica: Quando a causa do problema é no ouvido interno
  • Vertigem central: Quando a causa do problema é no Sistema nervoso central

Principais causas de vertigem

A vertigem é frequentemente resultante de uma disfunção no sistema vestibular, que pode ser classificada como periférica ou central.

  • Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB): A VPPB é uma das causas mais comuns de vertigem (sensação de rotação). Isso acontece quando pequenas partículas de cálcio se soltam e se movem em uma parte do ouvido interno chamada canais semicirculares. Quando essas partículas se movem, elas podem fazer você sentir vertigem intensa, especialmente quando você muda a posição da cabeça. Normalmente, essa sensação de vertigem dura apenas alguns segundos até um minuto e pode ser desencadeada por movimentos específicos, como olhar para cima, girar a cabeça na cama ou pegar um objeto no chão
  • Síndrome de Ménière: Esta condição é caracterizada por episódios recorrentes de vertigem, perda auditiva e zumbido. A síndrome de Ménière é causada por um acúmulo anormal de líquido no ouvido interno, que pode afetar a audição e o equilíbrio. Os episódios podem durar de 20 minutos a várias horas e geralmente ocorrem em crises, seguidas por períodos de remissão.
  • Neuronite Vestibular: A neuronite vestibular é uma inflamação do nervo vestibular, frequentemente causada por uma infecção por vírus. Ao contrário da labirintite, a neuronite vestibular não afeta a audição. Os sintomas incluem vertigem aguda que pode durar semanas, mas geralmente melhora gradualmente.
  • Labirintite: A labirintite é uma inflamação do labirinto (parte do ouvido interno que é responsável tanto pela audição quanto pelo equilíbrio), que pode ser causada por infecções virais ou bacterianas. Os sintomas incluem vertigem intensa, perda auditiva, e às vezes, zumbido. A labirintite pode ser acompanhada de febre e mal-estar geral.
anatomia do ouvido interno

Tratamento da vertigem

  • Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB): O tratamento mais eficaz é a manobra de Epley, que ajuda a reposicionar as partículas soltas no ouvido interno. O paciente é orientado a realizar movimentos específicos da cabeça para aliviar os sintomas. É uma manobra que comumente realizamos no consultório de Medicina de família e Comunidade
  • Síndrome de Ménière: O tratamento pode envolver mudanças na dieta (redução de sal), medicamentos para controlar os sintomas (como diuréticos) e, em casos graves, intervenções cirúrgicas.
  • Neuronite Vestibular e Labirintite: O tratamento geralmente envolve repouso, medicamentos para controlar a vertigem e, em alguns casos, terapia vestibular para ajudar na recuperação.

2. Pré-síncope

Refere-se à sensação de que você vai desmaiar. Os pacientes com pré-síncope frequentemente sentem calor, náuseas ou borramento visual. Essa condição geralmente ocorre em situações como levantar-se rapidamente, após esforços físicos ou em resposta a estresse emocional.

imagem ilustrativa de uma mulher com sensação de desmaio (pré-sincope)

Causas de pré-sincope

A pré-síncope é frequentemente causada por uma queda na pressão arterial ou por redução do fluxo sanguíneo para o cérebro. Algumas causas incluem:

  • Hipotensão Ortostática: Isso ocorre quando há uma queda súbita na pressão arterial ao levantar-se rapidamente. É comum em pessoas idosas e pode ser causada por desidratação, uso de medicamentos entre outras causas
  • Desidratação: A desidratação pode reduzir o volume sanguíneo e levar a quedas na pressão arterial, resultando em pré-síncope.
  • Arritmias Cardíacas: As arritmias podem causar uma redução temporária no fluxo sanguíneo para o cérebro, resultando em sintomas de pré-síncope.

Tratamento de pré-sincope

O tratamento pode incluir a identificação e correção da causa subjacente, como ajuste de medicamentos ou mudanças na dieta.

3. Desequilíbrio

Essa sensação é de instabilidade e pode ser descrita como “sentir-se com as pernas fracas” ou “não conseguir se manter em pé”. O desequilíbrio não envolve a sensação rotacional da vertigem, mas pode ser mais comum em idosos.

Imagem ilustrativa de um idoso que sofreu queda após desequilíbrio

Causas de desequilíbrio

O desequilíbrio é mais comum em idosos e pode ser causado por uma combinação de fatores, incluindo:

  • Perda Auditiva: A perda auditiva, especialmente em frequências altas, pode afetar o equilíbrio. Muitos pacientes relatam que o uso de aparelhos auditivos melhora sua sensação de equilíbrio.
  • Problemas Visuais: A visão desempenha um papel crucial no equilíbrio. Condições que afetam a visão, como catarata ou degeneração macular, podem contribuir para a sensação de desequilíbrio.
  • Disfunção Proprioceptiva: A propriocepção é a capacidade de perceber a posição do corpo no espaço. Lesões, neuropatias ou condições como diabetes podem afetar essa percepção e levar ao desequilíbrio.
  • Condições Neurológicas: Doenças como Parkinson, esclerose múltipla ou AVC podem resultar em problemas de equilíbrio e coordenação.

Tratamento do desequilíbrio

Aqui uma avaliação multiprofissional junto com o acompanhamento médico faz toda a diferença no tratamento. Pois, para melhorar o equilíbrio e a estabilidade precisamos de uma avaliação e acompanhamento com fisioterapia. Além disso, em alguns casos a reabilitação vestibular pode ser necessária. O uso de dispositivos de assistência, como bengalas, pode ser recomendado para prevenir quedas.

4.Tontura inespecífica

 Inclui sintomas que não se encaixam nas categorias anteriores. Os pacientes têm dificuldade em descrever o que sentem, utilizando apenas o termo “tontura”. Isso pode incluir sentimentos vagos de mal-estar ou desorientação.

Causas de tontura inespecífica

A tontura inespecífica é frequentemente associada a fatores emocionais ou psicológicos. Algumas causas incluem:

  • Ansiedade e Estresse: Condições de saúde mental, como transtornos de ansiedade e depressão, podem causar sintomas de tontura. A hiperventilação, que pode ocorrer durante crises de ansiedade, também pode resultar em tontura.
  • Medicamentos: Alguns medicamentos, como antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos, podem ter efeitos colaterais que incluem tontura e desequilíbrio.
  • Distúrbios Metabólicos: Hipoglicemia (baixo nível de açúcar no sangue) e outras condições metabólicas podem causar tontura inespecífica.

Tratamento de tontura inespecífica

O tratamento da tontura depende da causa. Esse é um tipo de tontura que comumemente costuma se relacionar com mais de uma causa, precisando então de uma abordagem completa do paciente. Aqui estão algumas abordagens comuns:

  • Terapia cognitivo-comportamental
  • Correção de distúrbios metabólicos
  • Manejo do estresse
  • Em alguns casos, medicamentos para tratar a ansiedade ou depressão
  • Entre outros
Imagem ilustrativa de mulher com tontura

Importância da Avaliação Médica

A avaliação médica é crucial para determinar a causa exata da tontura. Na avaliação da tontura pelo médico de família é realizado uma história clínica detalhada e um exame físico, incluindo a avaliação dos sintomas, duração dos episódios e fatores desencadeantes. Algumas perguntas importantes incluem:

  • Quando a tontura começou?
  • A tontura ocorre em episódios ou é contínua?
  • Existem outros sintomas associados, como perda auditiva ou zumbido?
  • A tontura é desencadeada por mudanças de posição ou movimentos da cabeça?
  • O paciente tem histórico de condições médicas como hipertensão, diabetes ou problemas cardíacos?

Além disso, pode ser necessário solicitar exames complementares, como audiometria, exames de imagem (ressonância magnética ou tomografia computadorizada) e testes vestibulares, para ajudar a identificar a causa da tontura.

Considerações Finais

As queixas de tontura podem ter um impacto significativo na vida do paciente, afetando sua capacidade de realizar atividades diárias, como trabalhar, socializar e até mesmo cuidar de si mesmo. É muito frequente o paciente deixar de fazer atividades que gosta e que são importantes para ele pelo medo de ter tontura ou medo de cair.

A sensação de vertigem ou desequilíbrio pode levar a quedas, aumentando o risco de lesões, especialmente em idosos. Além disso, a tontura pode causar ansiedade e estresse, fazendo com que a pessoa evite situações que antes eram normais, como sair de casa ou participar de eventos sociais. 

Diante desse cenário, é crucial procurar ajuda médica para identificar a causa da tontura e receber o tratamento adequado. A avaliação profissional não só pode aliviar os sintomas, mas também melhorar a qualidade de vida do paciente, permitindo que ele retome suas atividades com segurança e confiança.

Além disso, apesar de ser um sintoma comum, pode ter causas graves. Então o quanto antes for avaliado e identificado, menos risco de complicações.

Se você ou alguém que você conhece está enfrentando tontura persistente ou frequente, não hesite em buscar ajuda profissional. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para garantir a segurança e o bem-estar do paciente.

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